Lê-lo-ei

Desde rebento já fazia escrever. E sempre sem desviar-se do objetivo. Às vezes com um gesto ou com um som, chamava a atenção, persuadia e alcança a meta, com plano traçado. Um choro, dos bem chorados, acordava os interessados e sempre os fazia entender, qualquer que fosse o querer. Hoje, em degrais Maslownianos mais altos, já não chora mais. Hoje faz rir e chorar. Quem escreve mais, chora menos. (é tudo ficção).

14.4.08

Pirâmides, ligações comerciais e bundões.

Eu folgo em saber que os business men estão por aí cuidando muito bem dos jargões mais vendedores da língua portuguesa. Muito além da simplicidade dos Imperdíveis e Imbatíveis da vida, estamos mergulhando numa gigantesca poça de anúncios e abordagens vendedoras todos os dias, em todos os lugares! Cól centeres: Aquele dia de trabalho que você não consegue parar de suar nem na porta da geladeira, que é só sentar pra perninha começar a bater enquanto cigarro grita dentro do maço chamando seu nome. É quando você recebe a ligação de uma vendedora de seguros: - O senhor que é um homem de visão, sabe que não pode deixar de estar aproveitando a oportunidade que a nossa empresa vai estar oferecendo exclusivamente para o senhor. Uma caralhada de conversa mole pra você ficar com vergonha de falar não e sentir-se culpado pela situação da atendente, que depende de você para bater a meta e sustentar a penca de filhos que ela fez com o namorado, que também ganha mal e toca numa banda de pagode de bairro, mas ainda faz bico de motoboy na LBV, cobrando aqueles 50 reais por mês que você acordou em doar para outra atendente, prima dessa que está falando com você agora e também com metas, só que para uma empresa que “ajuda” pessoas com necessidades especiais. Caramba, onde fica a sua necessidade de manter o seu dinheiro no seu bolso. Vai pra casa descansar, já pensando em tirar o telefone do gancho pra evitar constrangimentos, pára no primeiro semáforo e vem uma dupla de cegos (uma dupla hein), um com os braços dados com o outro e pedindo aquele seu trocado que a LBV não quer. Você dá, porque fica com pena pensando em como é que eles andam guiados se ambos são cegos. Chega em casa e já vê de longe, na caixinha do correio, mais apelos pelo seu dinheiro. Alguns são compulsórios, só vem o recibo pra te lembrar daquela vez que você atendeu a moça do banco na hora do almoço, com pressa e acabou aceitando aquele PIT Premiado só porque ela disse que era o único jeito para liberar o empréstimo que você solicitou. Mas como é que você vai ganhar dinheiro se já está pegando emprestado para emprestar, dar, doar e financiar essa pirâmide de vendedores (cól centeres) e sua logística de apoio (motoboys). Esse é um mês normal. Nos meses piores, você tem que gastar o restinho daquele empréstimo pra consertar o retrovisor que a logística da LBV arrancou na pressa de cobrar seus companheiros doadores, fora o investimento no seguro pessoal contra roubo, morte, furação e tsunami que você assinou sem perceber no meio das faturas do seu cartão de crédito, durante aquela renegociação lá no banco, com a mocinha do PIT Premiado. Concluindo: quem ajuda os outros, fica pobre, quem ferra os outros, se mantém pobre e quem emprega os dois, fica rico. Simplifique tudo isso e descubra que rico manda, pobre obedece! Ficou bom esse texto, patrão?