Dignidade
As falhas cometidas nunca se dão no instante em que ocorrem. Todas, inevitavelmente, levam-te a repensar seu modo de agir diante dos outros. Os problemas aos quais se soluciona por dentro, sem transparecer no comportamento, desgastam seu caráter e contaminam suas atitudes. Sempre, só se enxerga os erros quando pára de funcionar todo sistema paralelo que foi criado na tentativa de manter a acomodação estática, aconchegante. Quando coalha o doce, vem o tempo de trocar o caldo. Esse tempo chega sempre no auge da fuga. Nas vezes em que parece ter funcionado seu esforço de encobrir as malditas falhas. Insegurança, que gera medo, que gera hipocrisia, que cria situações insustentáveis, que dão em problemas homéricos. Problemas maiores dos que deixaram de ser resolvidos ao se fazer as malas. É assim que eu me sinto hoje. Consumido pela fome que eu provoquei alimentando o faminto errado só pelo fato de ele não recusar o mais puro prato feito. Difícil é agora que os dois, ainda famintos, se uniram contra a simplicidade do cardápio e em favor da distribuição justa. Ficou impossível levar mais um passo que não seja matar os dois de fome. Quem come, na vardade, é um terceiro. Que vive em mim escondido, cheio de falhas que eu desconheço, e pior, cheio de falhas que eu finjo desconhcer.A sangria é dolorosa, mas acalma a dor latente que não finda. Dói mais em mim do que nos outros, mas alivia o peso de terem que carregar-me ferido, acomodado. Não peço perdão por que errei nem espero ser socorrido de uma treva que eu criei, mas insito na compreensão desse erro do qual eu acredito que todos fazem parte. Desdigo, por enquanto, o que eu já disse em outras prosas sobre sinceridade. O caminho é mais longo do que parece e eu estou disposto a percorrê-lo até o fim, sem mais atalhos. Esses são sempre espirais de inverdade que te trazem de volta para trás sem trazer nada de mais, gastam sua alma e atrasam seu tempo.

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