Lê-lo-ei

Desde rebento já fazia escrever. E sempre sem desviar-se do objetivo. Às vezes com um gesto ou com um som, chamava a atenção, persuadia e alcança a meta, com plano traçado. Um choro, dos bem chorados, acordava os interessados e sempre os fazia entender, qualquer que fosse o querer. Hoje, em degrais Maslownianos mais altos, já não chora mais. Hoje faz rir e chorar. Quem escreve mais, chora menos. (é tudo ficção).

29.9.06

Homem ao Mar

Pensei que quanto mais tempo me faltasse a chuva, melhor seria o gosto da água quando voltasse a chover. Mesmo que fossem gotas pequenas para ver. Acho que só percebi agora que, o tempo que passou enquanto eu me escondia da chuva, me matou de sede. Já não sou capaz de beber um só gole de água sem que eu me lembre da amargura de ter a garganta seca. Sequei. Seria aqui que eu começaria a chorar, mas sequei. Isso ainda não é o fim. Eu assumi os riscos de chegar até aqui, já esperava que fosse assim. O que me mata de verdade não é a falta de lágrimas, mas sim o medo de me afogar em suas águas. Medo de nadar num mar ao qual eu escolhi abandonar. Esse medo me controla, me impede, me isola. Não consigo mais viver se penso que pode chover. Vou fugindo de ser salvo enquanto eu puder prever. Desisto aqui sem saber. Quero agora que a correnteza me guie para você, ou me leve para morrer. Só não aguento mais gritar: - Pule aqui pra me salvar!